A faculdade de filosofia não nos ensina nada sobre o amor. As pessoas sempre acham que lá se aprende dimensões interessantes sobre a vida, a morte, a paixão. Não tem nada a ver. Na faculdade aprendemos Ética, Estética e Moral, ou seja, nada que me preparasse para a Tamara.
Eu me lembro que um primo meu falou que ia casar, mas que o amor não era fácil. Olhou para a minha barbicha de bode e disse:
- O Ricardo sabe, ele estuda filosofia.
Eu fiz aquela cara de quem concorda, mas não sei o que o meu primo acha que eu estudei na faculdade, só sei que viajou.
Voltando a Tamara, eu posso dizer que ela era livre, muito livre, e não sei porque razão adorava me contar das aventuras dela. Contava que transou com mulheres, com mais de um cara, que conhecia o sexo tântrico e coisas que até hoje me doem lembrar.
Eu ficava com um ciúme, com uma raiva, mas não falava nada. Não podia passar por careta.
Uma vez eu quase morri. Nós estávamos passeando na redenção, tomando mate, passeio altamente hippie, na paz, apaixonados e ela me diz:
- Rica, eu estive pensando, acho que nós podemos ficar com outras pessoas, não precisamos desta coisa de compromisso, não é?
Tive uma pequena pane no sistema central, quase deslizei pra trás, depois pra frente, derrubei o chimarrão todo em mim. Respirei fundo e soprei com voz natural, ou quase isso:
- Pois amor (chamava de amor com um mês de namoro, queria casar com ela), eu acho que não, não é, bem light, vamos ficar tranquilos.
- Claro Rica, eu sabia que tu ia entender. Ontem eu vi um cara que entrou no curso de Ciências Sociais, achei interessante, queria ter certeza que tu ficar na boa.
Outra pane, morri de vez e levei a garrafa térmica junto, ela quebrou em vários pedaços.
- Tamara, claro. Ciências Sociais, legal.
Nada podia me preparar para a Tamara, eu continuei com ela um bom tempo e nunca sofri tanto na minha vida. Ela não gostava só de fazer, ela queria se exibir.