quarta-feira, 13 de abril de 2011

Broxar

Era uma questão de honra: eu tinha que broxar! Foi a única vez na história da humanidade que uma broxada seria prova contundente de macheza. Concentrei, mantive o foco - até lembrei da minha mãe -nada. A samba canção traia qualquer tentativa de engano. Se fosse uma sunga poderia colocar o instrumento pro lado, ficaria menos evidente, mas a samba canção formava uma barraca. Fazia a coisa parecer maior do que era.

Os dois amigos da Martinha estavam sem camisa. Davam tapas na bunda dela; ela corria e dava risada. Era uma cena horrível, e eu de pau duro. Nada de falhar.

Aquilo era uma prova da minha teoria que o pênis tem vida própria. Tantas vezes a gente quer, e ele nada; quando a gente nada, ele quer.

Acabei desistindo. Levantei e fui pro outro quarto. Deixei o pessoal se divertir à vontade. Fiquei deitado na cama, sozinho. Eu e a samba canção que seguia lá em cima. Já estava quase dormindo quando a Martinha entra só de calcinha. Veio empurrada pelos gays. Subiu em cima de mim, os seios à mostra, fez um coque no cabelo e chegou perto do meu ouvido:

- Rica, eu gosto de mulher e tu vai ter que ser muito bom pra superar uma mulher. Agora que eu quero ver!

Broxei na hora - comprovei a teoria.

No motel

Ir de táxi para um motel pode ser estranho. Mas é pior quando se chega com um amigo, duas gurias e dois gays - todo mundo junto. Quando paramos na recepção a moça colocou a cara para fora da janelinha, olhou para dentro do carro, e fez a pergunta que estava na minha cabeça o trajeto todo:

- Quantos quartos?

Olhei pro Carlo:

- No mínimo dois, por decência.

- É por minha conta. Pede três.

Ao menos isso.

Ficamos naqueles quartos conjugados, divididos por portas. O Carlo foi rápido: pegou a Josi e desapareceu. Fiquei numa situação tensa: a Martinha não queria saber de sair de perto dos amigos. Eles estavam num enrosco tão sério que achei que ia perder minha chance. Pra não correr esse risco fui me achegando, mantendo o foco nela. Mesclei um ar de boa-praça com um ar de quem não está querendo dar de jeito nenhum. Funcionou. Levei a mulher pro outro quarto, e sozinha.

Começamos a função. A coisa não estava fácil. Eu conquistava posições com dificuldades: se ela cedia num ponto retrocedia em outro. Depois de um bom tempo o jogo estava empatado, eu de samba canção e ela de calcinha. Foi quando o bicharedo invadiu o recinto:

- Ooopa, que farra. Tá bem de corpinho, amiga.

Ela levantou. Ficou se exibindo. Pelo que os caras passavam a mão, desconfiei que não eram gays. Ela mostrava a bunda, eles metiam a mão, ela mostrava os peitos, metiam a mão, a barriga, mão. Fiquei aliviado quando ela tirou a calcinha e deram um grito:

- Aaaí, que horror. Esconde isso guria. A gente gosta mais daquele outro material.

Apontaram pra minha samba canção. Só então me dei conta: a barraca seguia armada.

O começo

Todo homem com menos de 20 anos deseja comer todo mundo. Não tem mulher que escape, não tem minuto de trégua. Se o sexo feminino é igual, eu não sei. Falo pela minha classe.

No tempo que fui hippie, tentei dar vazão ao desejo. Seguindo meu instinto entrei naquela suruba; nessa mesma pilha fui parar num motel: eu, o Carlo, a Josi, a Marta e dois amigos delas - gays.

Até hoje tento entender como aterrissei naquele quarto com toda essa gente. Lembro de chegar à festa e ficar louco de faceiro quando fiquei com a Marta; lembro do Carlo, só sorrisos, quando agarrou a Josi; e nunca vou esquecer nós dois de boca aberta, no instante que as duas começaram a se agarrar.

Depois do minuto de espanto nos abraçamos de felicidade, nos cumprimentamos de alegria. Comeríamos as duas juntas - ia ser uma farra! Passada a primeira hora, ficamos desconsolados. Elas não se desgrudavam e parecia que não ia sobrar nada para nós. Nós já estávamos sentados no meio fio, tomando uma Coca-cola, quando elas nos chamaram e perguntaram para onde íamos, os quatro. O Carlo foi ligeiro:

- Deixa comigo. Sei  para onde.

Ele foi ágil: pulou na frente de um táxi e foi empurrando o pessoal. Claro que colocou as duas para o banco de trás e me jogou no da frente. O taxista estava arrancando quando a Josi abriu a porta e saiu correndo:

- Espera, esqueci dos guris, eles vão dormir lá em casa.        

Voltou com os dois. Vi o quanto a situação era delicada quando escutei um dos amigos falar:

- Aiiiiii guriaaaas. Onde vocês vão nos enfiar?

- Arranca pro Avalon, o motel da perimetral. - O Carlo já estava com tudo planejado.

Olhei para o taxista, devia estar apavorado. Ele só olhou e disse:

- Quatro passageiros é bandeira 2.

- Toca pra lá. Toca pra lá. - ouvi o Carlo gritar.