Depois de seis meses de facul, eu comi alguém, mas não tinha sido por mérito meu.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
A Primeira Gata
Depois de seis meses de facul, eu comi alguém, mas não tinha sido por mérito meu.
Ouvindo Vozes
- Escuta meu, com quem tá falando?
- Esta árvore, amigo. Olha a respiração dela, o barulho dos galhos, todo som é uma forma de expressão.
O cara tava mal.
- Olha o Rica, bem locão, esquecendo as coisas.
- Passa o fuminho pra cá, rapaz.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Catacumbas
Era um frio de se cagar e eu tive que dar uma inventada na roupa. Calça de moleton, alpargata com meia de lã, e uma japona antiga do velho pai, que ele comprou na Alemanha na época de hippie dele.
A festa era boa, a música que era um saco.
- Rica, baita som hein?
- Cara, nunca ouvi!
- Quê? Tu nunca ouviu The Doors, Rica?
(Momento de tensão, nunca tinha ouvido aquela merda, mas pelo jeito não ter ouvido The Doors era pior que usar cueca)
- Ah, não tinha me dado conta que era ele.
Quando saímos pra fumar um cigarro todo mundo já sabia que eu não tinha reconhecido o tal do Doors, e ficaram torrando minha paciência, porque esta galera gosta de uma patrulha.
Todo mundo fumava cigarro de palha enrolado em palheiro, cada um tinha um jeito de enrolar o palheiro, cada um tinha um tipo de fumo; eu nunca tinha fumado cigarro.
No meio desta fumaceira toda tinha uma gata, UMA gata. Minhas chances eram grandes, à parte a coisa da música eu estava bem, sempre fui bom de piada, enchi a galera de piada. E a alpargata com meia de lã dava um toque diferente. A gata era possível.
Até que chegou um cara de dreeds bem cumpridos. Puta, dreeds é foda, cumpridos é pra matar. Porque tá na cara que o cara é hippie desde os 15 anos, senão de onde ele ia tirar tanto cabelo em 6 meses de facul, do pai dele é que não era.
Ele tinha dreeds, eu tinha um bigode, ao menos eu chamava de bigode. Minhas piadas estavam para acabar e o cara mandou trazer a viola para ele tocar sei lá o que. A gata já era.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Sem cuecas
Cuecas
Bem no começo da faculdade, quando eu ainda dava os primeiros passos para tentar ser hippie, eu estava em uma conversa com dois caras que eu considerava graduados em hippongagem. Eles comentavam que não entendiam como tinha gente que ainda se submetia a usar cuecas.
Tinha alguma coisa a ver com tirar a liberdade do cara, se sentir reprimido, uma repressão disfarçada do sistema, essas coisas importantes que eu sempre achei uma série de bobagens.
Eu não comentei nada, porque eu estava de cueca e aquelas cuecas tipo sunga, que aperta tudo, de fato.
- Rica, tu usa cueca?- me largou um.
(Tinha que pensar rápido, mentir descarado ia ficar na cara, eu ainda tinha uma cara de guri de apê, mas falar a verdade: -Sim, eu uso cueca, aquela tipo sunga. - também não dava)
- Tchê, as vezes uso.... sambacanção - e fiz um gesto meio vaga com as mãos, dando a entender que ficava tudo bem solto ou que talvez eu tivesse um pau deste tamanho, ou as duas coisas juntas.
- Sambacanção é bom, é da velha escola, grande Rica.
Tinha me saído bem. A partir dali nunca mais usei cueca, mas na dúvida comprei umas três sambacanção.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Me apresento
No campus do vale eu conheci uma galera como eu: que não gostava de Charlie Brown Junior e gostava dos caras mais antigo. Era bacana gostar de Cartola, Chico e ser bem magrão, eu tava no paraíso e era cool.
Além do mais todo mundo compartilhava da minha teoria de acordar às 10, tanto que nossa aula era de tarde, começava às 14 horas e a galera chegava atrasada, porque logo depois do almoço é foda sair correndo. (E o pior é que é).
E então eu fui aprendendo as manhas pra ser hippie: não usar tênis, só chinelo ou alpargata (alpargata, claro), não usar cuecas, barba comprida (eu não tinha muita barba no começo da faculdade), calça larga de moletom e camisetas velhas.
No começo foi uma função, tive que fuçar no guarda roupas do meu velho pai, porque eu não tinha nada disso. Ele até me ajudou, ele sempre diz que já foi hippie. Não podia comprar nada, se não a galera ia ver que eu tava querendo ser hippie, e eu tinha que mostrar que eu já era, que era tranquilo, natural.
Acho que a princípio enganei bem, porque os caras me aceitaram e até me apelidaram de Rica. Eu achava estranho, Rica parece de mulher, mas o pessoal natureba hippie é assim, não tem muito esta coisa de definir masculino e feminino, é tudo meio junto, bem natural.
Este foi só o começo, depois foi piorando.
O blog
Descobri isto há bem pouco tempo, semana passada na verdade.
O caso foi o seguinte: tenho um querido amigo que adora esta coisa do Haiti. O cara vê tudo, todo o tempo, lê tudo, sabe da situação política do lugar, é uma beleza.
Eu não sei nada. Sempre digo a ele que odeio esta história, odeio ler e ver um monte de gente passando mal, tudo com fome e sem casa. Sei que deveria gostar e me compadecer, mas sei lá, não rola.
Mas bem, estes dias eu li que tinha um monte de gente saindo da capial do Haiti, Porto Príncipe (ao que parece), e migrando para o interior. Eu achei o máximo! Sempre sonhei com isto, desde guri: o mundo um caos e eu iria para o interior, lá pro sítio em Viamão, ia plantar, colher e até carnear um ovelha. (O mundo um caos e eu lá, total homem da natureza, uma beleza).
Pois aí eu li toda aquela reportagem, não era muito, duas páginas da Zero Hora. Não era tão legal, mas valeu.
Liguei pro meu amigo, queria compartilhar, mostrar que eu também me interessava, que eu sou solidário! Ele me chamou de narcisista, egoísta, até de alienado (nunca entendi este xingamento). Disse que só olho as coisas porque me identifico, não sei me colocar no lugar do outro, não vejo além do meu umbigo, e que esta coisa de ir para o interior era uma frustração minha, que eu era um hippie fracassado e que agora ficava achando poesia onde só tinha a dura realidade.
Eu achei uma merda e mandei ele pra lá, mas é verdade: eu fracassei como hippie. Tentei e deu errado.
Então criei o blog, um pouco para mostrar que não é fácil ser hippie e um pouco para mostrar o quanto é um saco ser hippie.
Isso aí amigos, vamos ver no que dá.
abraço à todos, Rica