terça-feira, 10 de agosto de 2010

Shopping 2

Chegando no shopping fui direto para o Mc Donald's. De canto de olho eu cuidava um lado e outro. Se alguém me visse todo o esforço de quatro anos de faculdade ia por água abaixo. Ser visto no shopping com a mãe, comendo um Big Mac, é o fim da carreira de qualquer cidadão.

Enquanto eu estava lá, realizando o desejo, mergulhando aquela batata frita cheia de sal no ketchup, eu vi o Barba passeando no shopping.

O Barba no shopping era caso de chamar o Ibama. Aquela figura, no meio da praça de alimentação, com calça larga, camiseta sem gola, orelha furada, barba e cabelo formando uma só juba podia morder qualquer um.
Fiquei me escondendo atrás do Big Mac, enfiei a cabeça na batata frita. Ele não me viu.

A sessão de tortura começou depois. A mãe queria comprar uma manta. Não foi fácil. Por vezes eu o via vindo de longe, caminhando na minha direção e então tinha que desviar.
Fui seis vezes ao banheiro àquela noite. Ao menos podia reclamar:

-Viu mãe, esse negócio de Mc não faz bem para o estomago.

Quando eu não aguentava mais e estava quase me jogando nos braços dele para confessar, "Barba, eu pequei. Estava aqui no shopping com minha mãe comendo um Big Mac", eu vi o homem parado diante de uma vitrine. Uma vitrine da Nike.

Aquela era uma oportunidade. Um homem constrangido não denuncia outro homem. Nós faríamos parte de uma confraria, eu teria o Barba, o mais alternativo da galera, em minhas mãos.

Cheguei devagar, era um lance arriscado, mas a vida é tudo ou nada.

-Barba, te agradou do tênis?
-Rica? Ééé....
-Tu passeando no shopping, nunca imaginei!
-Ééé....
-Já te aviso que esta loja é cara.
-É!!!

Ficamos em silêncio um bom tempo. Pelo que pude ver por detrás da juba ele trocou de cor umas quantas vezes. Ficou vermelho, roxo e depois azul.
Decidi não falar mais nada, seria como chutar cachorro morto. Nós formávamos uma maçonaria. Eu e o Barba, traidores do movimento.

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