segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Violão

Todo hippie tem que saber tocar violão. Não é uma regra, como não poder usar roupas de marca, não poder ir ao shopping ou ter que gostar da Janes Joplin. Mas é necessário para qualquer um que queira tentar comer alguém em um luau, por exemplo.

Como eu não tinha nem ideia de como se segurava uma viola resolvi pegar um atalho. Percebi que toda festa tinha um magrão que gritava, "Toca Raul!". Não precisa ser gênio para pensar: "Tenho que aprender Raul".

Fiz isso, foi fácil. Nas festas eu espreitava. Às vezes demorava, mas o grito esperado sempre vinha, "Toca Raul", e eu, mais que ligeiro:

-Boa! Deixa pra mim. Raul é minha especialidade.

Na maioria das vezes tinha que ser rápido, porque devia ter mais gente com a mesma tática. Era só sair o grito que levantavam uns três ou quatro. A coisa não era fácil, muita competitividade.

Era necessário aprimorar a técnica. Aprender mais músicas estava fora de cogitação (eu sou péssimo com música), decidi usar a criatividade.

Primeiro tentei gritar "Toca Raul" meio pelo canto da boca para logo puxar o violão. Não deu certo. O grito saía fraco e a vez que consegui o cara que estava com o violão já engatou.

Eu precisava de mais vantagem. Precisava estar com os braços soltos para tomar a frente: agarraria o violão e ai de quem se agitasse. Alta competitividade, como expliquei.

Então lembrei do Gabi. Como o negócio dele não tinha nada a ver com mulher, topou me ajudar. Era simples. Quando tinha alguma gata em volta eu fazia o sinal: coçar o cavanhaque. Ele preparava o grito e eu o pulo. Era tudo rápido, não tinha espaço para ninguém meter a mão. Só dava eu.

A tática foi um sucesso. Eu pegava o violão seguido, mas não comia ninguém.

O Gabi que me deu o toque:

-Ricardo, mulher só dá para cara que canta Zeca Baleiro.

Eu estava perdido, Zeca Baleiro no violão é foda.

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