Como naquela altura da faculdade eu já contabilizava um festival, decidi comparecer a um retiro acompanhado da turma dedicada à meditação, ao yoga e à leitura dos ensinamentos de um guru indiano com nome complicado.
Quem me convidou foi um colega que andava sempre de sandálias e vestidão. Nós nunca tínhamos conversado, mas eu estava sempre de olho nele. Era impossível não olhar para um cidadão fazendo yoga, no meio do campus, de vestido, no inverno, e de sunga no verão.
Num dia em que eu estava imaginando o que dizer pro pai para tentar convencê-lo a dar o aumento de pensão que a mãe exigia, o cara veio puxar assunto:
— Bom dia, amigo. Vejo pela sua expressão que você está preocupado com alguma coisa da existência do ser. Percebo que algo fundamental povoa os seus pensamentos.
— Meu chapa, eu estou preocupado com algo mais importante do que a existência, estou preocupado com a subsistência do meu ser. Se é que você me entende. — Para deixar claro que minha questão era dinheiro, fiz minha melhor cara de pobre preocupado.
Não pude ter certeza de que ele tivesse entendido bem. Descarrilhou a dizer que compreendia minha preocupação com a essência que nos nutre. Afinal, isso também era o supremo amor de que falava o grande Karaschinanabanda. Perguntou se eu já tinha lido o grande Karaschinanabanda e ficou surpreso com minha ignorância no assunto:
— Então, você ainda não conhece o maior dos mestres? Não entende esta grande conexão que há entre todos nós? Pois eu convido você a participar do retiro espiritual internacional pela conscientização e iluminação de todos os povos do mundo, que será dirigido por outro grande guru.
Parecia importante. Imaginei que seria no Peru, no Chile ou quem sabe até na Índia — naqueles templos antigos — e eu não teria grana para tanto. Expliquei para o amigo que provavelmente não poderia ir até lá.
— Mas vai ser em Canoas, na casa do Marquinho, com o Mestre Gerson. A gente pode ir de carro.
Topei. Ao menos só me faltaria um festival.
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