Depois do incentivo dos meus pais para fazer terapia procurei um profissional. Não foi difícil encontrar um bacana. Eu gostava do cara. Não concordava com tudo que ele falava, mas o homem tinha ideias interessantes.
- Ricardo, parece que tu procuras os caminhos mais complicados para trilhar!
A mãe concordava com ele. Ela disse a mesma coisa quando eu avisei que não comia mais carne, tinha virado vegetariano.
- Meu filho, tu estas sempre atrás de garoa com vento!
Em minha defesa, argumento que virei vegetariano depois de assistir a um documentário que mostra como os animais são abatidos. Fui assistir na maior boa vontade. Quem me convidou foi uma colega. Ela era hippie. Usava saia comprida, sandália e umas camisetas coloridas; a moça era uma graça. Ela que veio puxar assunto.
- Tu sabias que este salgado tem presunto?
- Não sabia, achei que era mortadela. Presunto é uma beleza.
- Mortadela também é carne. Fico pensando quantos animais são mortos para fazer este presunto. Pobre dos animais! Tem um documentário no cinema sobre isto, quer ver?
- Claro.
Fui ao cinema achando que no final quem ia comer alguém era eu. Esta história de comer carne dá ideia na cabeça da gente. Doce ilusão.
O filme foi horrível. Era vaca levando tiro, porco gritando e galinha presa em cubículo. Eu saí do cinema passando mal, a carnificina ainda descia pelas tripas quando a colega convidou:
- Vamos comer uma pizza? Eu quero calabresa!
Fui até a pizzaria. Percebi o que acontecia quando vi as rodelas de calabresa nadando no queijo. Não me contive:
- E o filme que acabamos de ver? Tu ficaste com pena do presunto que eu comi na faculdade e agora vai comer calabresa?
- Sai desta, Rica. Não dá para levar tão a sério.
- Esta rodelinha de calabresa é uma daquelas vacas. Essa rodelinha levou um tiro na cabeça!
- Acho que não. Calabresa é feita de porco.
- Pior! Essa rodelinha é um porco daqueles que gritavam desesperados.
- Rica, se tu não queres, não come. Eu estou com fome.
Naquela noite decidi não comer mais nada: nem a moça, nem a calabresa. Passei vergonha separando as rodelinhas.
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