sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Vegetariano

Depois do incentivo dos meus pais para fazer terapia procurei um profissional. Não foi difícil encontrar um bacana. Eu gostava do cara. Não concordava com tudo que ele falava, mas o homem tinha ideias interessantes.

- Ricardo, parece que tu procuras os caminhos mais complicados para trilhar!

A mãe concordava com ele. Ela disse a mesma coisa quando eu avisei que não comia mais carne, tinha virado vegetariano.

- Meu filho, tu estas sempre atrás de garoa com vento!

Em minha defesa, argumento que virei vegetariano depois de assistir a um documentário que mostra como os animais são abatidos. Fui assistir na maior boa vontade. Quem me convidou foi uma colega. Ela era hippie. Usava saia comprida, sandália e umas camisetas coloridas; a moça era uma graça. Ela que veio puxar assunto.

- Tu sabias que este salgado tem presunto?

- Não sabia, achei que era mortadela. Presunto é uma beleza.

- Mortadela também é carne. Fico pensando quantos animais são mortos para fazer este presunto. Pobre dos animais! Tem um documentário no cinema sobre isto, quer ver?

- Claro.

Fui ao cinema achando que no final quem ia comer alguém era eu. Esta história de comer carne dá ideia na cabeça da gente. Doce ilusão.

O filme foi horrível. Era vaca levando tiro, porco gritando e galinha presa em cubículo. Eu saí do cinema passando mal, a carnificina ainda descia pelas tripas quando a colega convidou:

- Vamos comer uma pizza? Eu quero calabresa!

Fui até a pizzaria. Percebi o que acontecia quando vi as rodelas de calabresa nadando no queijo. Não me contive:

- E o filme que acabamos de ver? Tu ficaste com pena do presunto que eu comi na faculdade e agora vai comer calabresa?

- Sai desta, Rica. Não dá para levar tão a sério.

- Esta rodelinha de calabresa é uma daquelas vacas. Essa rodelinha levou um tiro na cabeça!

- Acho que não. Calabresa é feita de porco.

- Pior! Essa rodelinha é um porco daqueles que gritavam desesperados.

- Rica, se tu não queres, não come. Eu estou com fome.

Naquela noite decidi não comer mais nada: nem a moça, nem a calabresa. Passei vergonha separando as rodelinhas.

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