As festas de família foram criadas pelas forças conservadoras da sociedade e são o meio mais eficaz de controle social. Seu principal agente de regulamentação são as tias. Elas estão sempre na espreita, procurando os desgarrados. Possuem estratégia aprimorada.
As festas são o maior obstáculo para as nossas escolhas. É impossível escapar ileso dos 80 anos de um tio, do casamento das primas ou do enterro da irmã mais velha da vó.
Na minha família eu tinha um algoz: a tia Judite. A tia não podia me enxergar sem perguntar: “e tu, meu filho, que estás fazendo da vida?”. Se falássemos dez vezes na festa, ela perguntaria a mesma coisa. Se eu reclamava, alegava esquecimento.
O mais constrangedor era quando ela me via entre um grupo de primos. Chegava com cronograma preparado. Não fazia a pergunta a esmo: entrevistava primeiro os primos com profissão regulamentada, depois buscava, em ritmo torturante, os desajustados. Por último, eu ou o primo Tonhão.
A tortura era típica das pessoas boas. Tortura no elogio. Veneno talhado na bondade.
- Aqui estão os meus orgulhos! O Carlos vai salvar essa minha dor de dente. O Jorginho é a nossa segurança. Médico na família é indispensável! Só faltava um advogado. Sempre achei que seria o Ricardo, tão inteligente. Pena! Mas tudo bem. O que tu estás fazendo da vida, meu filho?
Por causa da tia Judite eu e a mãe tivemos algumas brigas:
- Como tu não vais passar o ano novo com a família?
- Mãe, não vou! Vou ficar em casa, curtir o Faustão da virada.
- Meu filho, tuas primas vão estar todas lá! – A mãe sempre usava o argumento das primas.
- A Belinha?
- Claro. A Belinha, a Ju, a Carol, todas. – A velha sabia das coisas, eram todas primas de segundo grau, que para mim não são parente.
- Pois é, mãe. Quem sabe? E a tia Judite?
- Claro, a tia também.
- Mãe, não vou e pronto.
- Meu filho, tu estás virado em um rebelde!
As festas são o maior obstáculo para as nossas escolhas. É impossível escapar ileso dos 80 anos de um tio, do casamento das primas ou do enterro da irmã mais velha da vó.
Na minha família eu tinha um algoz: a tia Judite. A tia não podia me enxergar sem perguntar: “e tu, meu filho, que estás fazendo da vida?”. Se falássemos dez vezes na festa, ela perguntaria a mesma coisa. Se eu reclamava, alegava esquecimento.
O mais constrangedor era quando ela me via entre um grupo de primos. Chegava com cronograma preparado. Não fazia a pergunta a esmo: entrevistava primeiro os primos com profissão regulamentada, depois buscava, em ritmo torturante, os desajustados. Por último, eu ou o primo Tonhão.
A tortura era típica das pessoas boas. Tortura no elogio. Veneno talhado na bondade.
- Aqui estão os meus orgulhos! O Carlos vai salvar essa minha dor de dente. O Jorginho é a nossa segurança. Médico na família é indispensável! Só faltava um advogado. Sempre achei que seria o Ricardo, tão inteligente. Pena! Mas tudo bem. O que tu estás fazendo da vida, meu filho?
Por causa da tia Judite eu e a mãe tivemos algumas brigas:
- Como tu não vais passar o ano novo com a família?
- Mãe, não vou! Vou ficar em casa, curtir o Faustão da virada.
- Meu filho, tuas primas vão estar todas lá! – A mãe sempre usava o argumento das primas.
- A Belinha?
- Claro. A Belinha, a Ju, a Carol, todas. – A velha sabia das coisas, eram todas primas de segundo grau, que para mim não são parente.
- Pois é, mãe. Quem sabe? E a tia Judite?
- Claro, a tia também.
- Mãe, não vou e pronto.
- Meu filho, tu estás virado em um rebelde!
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