quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Política Privada

Em época de eleição a gente ouve que o importante para o país é a alternância de poder e a pluralidade de opiniões. Quem fala isso esquece o quanto o dia-a-dia de cada cidadão influência na política.

Quando eu estudava filosofia todo mundo falava de um livro chamado ‘Microfísica do Poder’, do Foucault. Eu nunca li, mas gosto do título. Lembra estas coisas que acontecem no cotidiano e invadem a vida pública.

Um exemplo foi quando virei PT. Precisei prestar atenção em coisas básicas, como minhas roupas. Era impossível seguir indo para a faculdade do mesmo jeito. Afinal, eu era dos radicais, tinha o Barba ao meu lado, e coisa que esta galera da luta patrulha é vestimenta.

Interroguei meu guarda-roupa. Calça jeans velha, meio rasgada. Boa. Tênis All Star, não tinha melhor. Camiseta? Não achei adequada. Um problema. Nenhuma vermelha, nenhuma do partido. Sem camiseta do partido eu não ia parecer um dos radicais. Ia ser centro-esquerda, galera que não está com nada, não é da luta.

Lembrei que a mãe tinha uma camiseta vermelha com estrela no peito, ridícula. Ia servir:

- Mãe, cadê aquela camiseta vermelha com estrela no peito?

- Não sei. Faz horas que não uso.

- Pois quero ver se me serve. Estou engajado na luta. Sou PT.

- PT? Desde quanto?

-Sei lá, desde segunda. Cadê a camiseta?

- Ricardo, PT? Tu não sabes nem quem são os senadores do Rio Grande do Sul.

- Tem mais de um?

- Três.

- Quanta gente. Mãe, primeiro preciso me fardar, depois vejo detalhes. Cadê a camiseta?

3 comentários:

  1. auhhuauhauhauh
    Fantástico. Você estava muito bem fantasiado. Quando eu era da militância do PT, andava parecido. Algo como uma blusa vermelha regata, uma calça jeans meio velha, um all star. Igual a você. Eu tinha estrela no peito e boina de Che. Pode acreditar, apesar do PT, faz tempo, não ser nada socialista... nem coisa parecida.

    Adorei o espaço, de verdade. (seguindo)
    Beijos

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  2. kkkkkkk
    sem contar os que se engajam na luta e esquecem de reularizar o título

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  3. Ana B.
    Esses são os melhores. Dão boas histórias.
    Abraço, Rica

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