Sempre achei que meu pai era como a torre do jogo de xadrez (ao menos como eu imagino a torre no xadrez). Ela fica lá, parada, meio figurativa, quase coadjuvante, até resolver atacar. Quando decide, é um estrago.
Naquele dia, no Hiposul, eu estava só esperando. Enquanto abríamos o mercado eu escutava ele resmungar. Levantando a porta de ferro escutei ele murmurar, enquanto fazia força: “PT, nãããão”. Depois, arrumando as frutas na frente do mercado: “PT, PT, PT”.
Eu passei o dia atrapalhado. Errei no troco, derrubei nas frutas, deixei o leite fora da geladeira. Ele não aliviava. Uma reclamação já seria um descanso na culpa. Mas só olhava, levantava a sobrancelha e dizia:
-Éééé.
A conversa só recomeçou na volta para a casa:
- Então, Ricardo. Que história é essa de terapia?
Achei inteligente. Começamos pelo assunto mais fácil e, de leve, abordamos o difícil.
- Ideia da mãe. Ela acha que pode ajudar. Cada uma, não?
- É uma ideia boa.
- Desde quando?
- Pode ajudar nesta questão do PT!
- Como assim? PT é política, não resolve em terapia.
- Como tu sabes? Tu nunca fizeste terapia! Isto pode ser um problema, sim. Não é normal! Um guri saudável, virar PT! Tu disseste que virou PT ou PP?
- PT.
- Pena. Diz para a tua mãe que eu apoio a terapia. Procura uma em conta, que isso é problema simples de resolver. Cortando este cabelo resolve metade da questão.
-Certo. Não precisa dizer mais nada.
- Combinado. Imagina se teu tio descobre uma coisa destas.
Cortar o cabelo eu sou a favor, mas terapia não. não vai curar, eu sei que não. Só quando uma grande decepção fizer ver que não existe partido, existem coligações e trocas de favor. Apenas isso.
ResponderExcluir"Meus heróis morreram de overdose"
Beijos e não precisa agradecer a visita, faço-a com prazer.