quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Discussão Familiar

Sempre achei que meu pai era como a torre do jogo de xadrez (ao menos como eu imagino a torre no xadrez). Ela fica lá, parada, meio figurativa, quase coadjuvante, até resolver atacar. Quando decide, é um estrago.

Naquele dia, no Hiposul, eu estava só esperando. Enquanto abríamos o mercado eu escutava ele resmungar. Levantando a porta de ferro escutei ele murmurar, enquanto fazia força: “PT, nãããão”. Depois, arrumando as frutas na frente do mercado: “PT, PT, PT”.

Eu passei o dia atrapalhado. Errei no troco, derrubei nas frutas, deixei o leite fora da geladeira. Ele não aliviava. Uma reclamação já seria um descanso na culpa. Mas só olhava, levantava a sobrancelha e dizia:

-Éééé.

A conversa só recomeçou na volta para a casa:

- Então, Ricardo. Que história é essa de terapia?

Achei inteligente. Começamos pelo assunto mais fácil e, de leve, abordamos o difícil.

- Ideia da mãe. Ela acha que pode ajudar. Cada uma, não?

- É uma ideia boa.

- Desde quando?

- Pode ajudar nesta questão do PT!

- Como assim? PT é política, não resolve em terapia.

- Como tu sabes? Tu nunca fizeste terapia! Isto pode ser um problema, sim. Não é normal! Um guri saudável, virar PT! Tu disseste que virou PT ou PP?

- PT.

- Pena. Diz para a tua mãe que eu apoio a terapia. Procura uma em conta, que isso é problema simples de resolver. Cortando este cabelo resolve metade da questão.

-Certo. Não precisa dizer mais nada.

- Combinado. Imagina se teu tio descobre uma coisa destas.

Um comentário:

  1. Cortar o cabelo eu sou a favor, mas terapia não. não vai curar, eu sei que não. Só quando uma grande decepção fizer ver que não existe partido, existem coligações e trocas de favor. Apenas isso.
    "Meus heróis morreram de overdose"

    Beijos e não precisa agradecer a visita, faço-a com prazer.

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